Relatórios Bobológicos
Procedimento Bobológico Emergencial: Futebol no Corredor
Tem pacientes e acompanhantes que são mais desafiadores que outros, não nos deixando acessá-los de jeito nenhum. Alguns tem só a cara fechada e meia palavra trocada, já está todo aberto! Esse é o nosso difícil ofício: se colocar à disposição para ouvir verdadeiramente o outro e encontrar brechas para acessá-lo e, nem que por um instante, transformar os sentimentos em riso.
Essa paciente da qual vou falar nesse relatório é uma dessas pessoas que não nos deixa nem passar da porta. Os acompanhantes, a mesma coisa. Nesse dia, o quarto estava cheio: além dela, do marido e de uma mulher que sempre está com ela, tinham outros adultos e os seus dois filhos: um de 10 anos e outro de 8, descobrimos as idades um pouco depois.
Assim que olhamos para ela, ela de prontidão, como sempre, negou nossa presença e continuou conversando com o rapaz que segurava sua mão. Olhei para os meninos, que pareciam meio aéreos a tudo e os convidei para fora do quarto. Expliquei a eles que estávamos com um problema seríssimo: queríamos jogar futebol, mas, além da gente não saber jogar, não tinha quem jogasse com a gente. Vocês topariam nos ajudar? Eles, prontamente, disseram que sim!
Organizamos então a partida: o menor fica de goleiro aqui na porta, você é atacante e eu e Baltazar… bem, também seremos atacantes. Iniciamos nossa partida de futebol com a nossa bolinha de papel improvisada! Não vou me demorar muito sobre a partida em si pois eu e Baltazar perdemos de lavada! O goleiro era muito bom quando nós jogávamos a bola para ele, mas ao mesmo tempo muito ruim quando o nosso adversário atacava! Que injusto!
Ao final da partida eu perguntei se eles não topariam, por um dia só, trocar de lugar com a gente: eles assumem nossos papéis de palhaços e nós assumimos o papel de jogador de futebol e o mais velho respondeu “não quero não, é muito difícil fazer isso que vocês fazem!”
A avó saiu do quarto nesse instante e foi conduzindo-os já para fora do hospital, nos despedimos e agradecemos pela partida.
Sempre me questiono sobre o meu papel como palhaça num hospital, sobretudo em dias difíceis. Naquele dia, talvez, o nosso papel tenha sido ajudá-los a lembrar que eles ainda eram crianças e o deles, de nos lembrar que o que a gente faz é muito difícil mesmo.
Dra. Alavanka Motolovs de Capote Valente
Hospital São Judas Tadeu
Doações
O Hospital de Amor (atual nome do Hospital de Câncer de Barretos) recebe pacientes de todos os estados do Brasil, oferecendo atendimento 100% gratuito. A instituição conta com profissionais altamente qualificados e realiza um importante trabalho para aumentar os índices de cura e sobrevida. Porém, nada disso seria possível sem o apoio dos diversos segmentos da sociedade, como pessoas físicas e empresas.