Só o Dia e a Noite

22 de Março | 2024

Mais um dia de Psiquiatria, um espaço de festa, de conversa descontraída, de dança, gargalhada. Ali a vida é intensa em cada segundo, conversa, olhar.

Meio ao caos, contava à um paciente curioso sobre a minha rotina de palhaça: bem, eu acordo, saio do armário… ah sim, eu moro no armário 27, no 4º andar. Sim, super prático, eu durmo pendurada com a roupa de trabalho, já saio pronta… Sim, sim, é verdade… Bom, depois eu tomo café da manhã, um pãozinho bem passado na manteiga, se tiver o pão e se tiver manteiga, claro, depois eu venho trabalhar, ai trabalho, trabalho, trabalho… Depois do trabalho eu vou lavar roupa, entro na máquina de lavar… Sim, sim, eu entro junto com a roupa, assim economizo tempo e água, né? Sim, pois é…. Geralmente eu levo um livro para ficar lendo enquanto a máquina me lava, é, realmente, é bom estudar… depois eu saio e fico pendurada na janela até secar… Sim, sim, eu uso a luz do sol, super prático, até tiro uma soneca as vezes… E depois que estou completamente seca, eu tiro uma soneca. Ué… Sim, de novo, tirar soneca cansa… depois que eu tiro uma soneca, eu descanso… ah sim, com certeza, são coisas diferentes, sim, sim… depois disso tudo eu me deito para dormir, afinal, tem que repetir tudo de novo no dia seguinte.

E fomos conversando sobre a vida, sobre a rotina de trabalho, sobre a chegada dele por ali, até que em um soco de realidade, ele me conta: eu tinha casa, carro, família, trabalho, esposa, filhos, eu tinha tudo. Agora eu só tenho o dia e a noite…

Hospital Santa Casa de Misericórdia de Barretos (SP)
Dra. Alavanka Motolovs de Capote Valente