“Ao pensar nas pessoas que mais amamos, estamos tendo mais um encontro ou menos um encontro?” Esta foi a reflexão que o especialista em Geriatria e Gerontologia, Willians Fiori, deixou ao público durante a sua palestra sobre ‘Envelhecimento Saudável’, na quinta edição do Cuidando de Quem Cuida.

Com o tema ‘O futuro não é mais como antigamente’, o membro da Sociedade Brasileira de Gerontecnologia começou o debate relembrando alguns itens antigos, deixando assim, o ambiente com sentimento de nostalgia e felicidade.

Durante o bate-papo, muitos insights foram feitos com o intuito de instigar o público sobre os momentos que estamos vivendo. Hoje, de acordo com o IBGE, no Brasil há mais de 56 milhões de pessoas acima de 50 anos. Para 547 mil crianças nascendo, há 1 milhão de pessoas idosas. Os números crescem anualmente, porém, os especialistas na área de gerontologia não aumentaram.

De acordo com Willians Fiori, protocolos antigos ainda estão sendo usados nos dias atuais, mesmo que o perfil de pacientes tenha mudado de forma considerável. Antigamente, as internações aconteciam com pessoas mais jovens, que tinham em média 39 ou 40 anos, por isso, os tratamentos e protocolos eram baseados em pessoas com esta faixa etária. Hoje, as internações, na sua grande maioria, acontecem com pessoas acima de 60 anos e o método, na maioria das instituições de saúde, não mudou.

Além de mudanças na parte teórica, a parte prática também precisa de atenção. É de extrema importância que as instituições desenvolvam políticas de apoio e valorização para pessoas idosas. Uma das iniciativas que o Governo do Estado de São Paulo implementou para estimular e apoiar a qualificação geronto-geriátrica dos hospitais foi o Selo ‘Hospital Amigo do Idoso’, que atualmente mudou o seu título para Selo ‘Instituição Amiga do Idoso’.

O Hospital São Judas Tadeu, a primeira filial do Hospital de Amor e instituição de cuidados paliativos e atenção primária ao idoso, conquistou o ‘Termo de Adesão’ do Selo no ano de 2014. Já em 2015, conquistou o Selo Inicial e, em 2017, atingiu o maior patamar, garantindo o Selo Intermediário e o Selo Pleno.

De acordo com a fisioterapeuta do Hospital São Judas Tadeu, Adriana Ferreira, “para obter o selo, o hospital deve cumprir 25 critérios que são divididos em níveis: inicial, intermediário e pleno, sendo este último o nível máximo exigido pelos auditores”. Dentre as adequações solicitadas, estão as acomodações do ambiente físico do prédio (como a inserção de barras no banheiro, elevação do vaso sanitário, antiderrapante e adequação do espaço utilizado pelo idoso). Segundo Adriana, 60% dos pacientes do Hospital São Judas Tadeu são idosos, porém, os outros pacientes em tratamento no centro também são contemplados com os benefícios.

Com o avanço da idade, algumas pessoas podem desenvolver demências, falta de mobilidade, perda de visão, entre outros problemas de saúde. Para demonstrar a importância de acolhimento e do respeito, Fiori juntamente a empresa Medimport (também parceira do HA), trouxeram um simulador realístico, com o intuito de colocar pessoas nas mesmas situações que idosos passam diariamente.

De acordo com o palestrante, “o simulador é responsável apenas por diminuir a mobilidade da pessoa, não sendo possível colocá-las em situações de dor ou demência. A ideia do simulador é treinar os profissionais de saúde, o time de recepção e outros profissionais que lidam diretamente com o paciente idoso para que eles saibam as dificuldades que essas pessoas podem ter”.

Após a dinâmica da simulação, Caroline Rodrigues – profissional escolhida durante a palestra para vivenciar esta experiência – explicou ao público que sentiu dificuldades para fazer coisas rotineiras, como, subir escadas, sentar-se na cadeira e andar de forma mais rápida. “Por causa dos óculos, eu não estava conseguindo enxergar direito e o meu movimento ficou mais lento também. Eu tive medo de cair e senti meu corpo mais pesado”, relatou a enfermeira do departamento de Educação Permanente do Hospital de Amor.

Além dos cuidados assistenciais, o carinho e a humanização também estão presentes durante todo o tratamento que o paciente recebe nas unidades do HA. Por isso, durante o trabalho, é compreensível que um profissional crie um vínculo de intimidade com o paciente. Ao trazer esta reflexão ao grupo, Willians Fiori questionou: “Quem cuida de quem? Vocês cuidam do paciente ou eles cuidam de vocês quando ninguém mais percebe que você não está tendo um bom dia?”. Ao fazer isso, ele instigou o público a pensar nas relações cotidianas que temos e afirmou que os vínculos de intimidade vão além de qualquer relação.

Para colocar em prática este pensamento, Fiori convidou os ouvintes para uma última dinâmica. Neste momento, ele propôs que as pessoas narrassem para o colega ao lado sobre uma pessoa muito importante, de como ela é ou era; o que faz ou fazia; o que ela gosta ou gostava; e qualquer outra informação que fosse importante naquele momento.

Como resultado desta atividade, os sentimentos dos ouvintes ficaram aflorados e surgiram algumas lágrimas. Mas no final, todas essas sensações foram acolhidas com empatia e eles saíram da palestra com o coração preenchido de amor, lembranças e saudades boas.

Por fim, a palestra do Willians Fiori sobre envelhecimento saudável vai muito além de dados e conceitos que são fundamentais para o bem-estar das pessoas idosas. Com o bate-papo, ele traz reflexões importantes de como estamos vivendo atualmente e se estamos dando valor nas pequenas coisas, nos afetos genuínos e nas pessoas que amamos.

Por isso, vale uma última reflexão: Qual legado estamos deixando para as pessoas? Como seremos lembrados quando partirmos? Será que ao final das nossas vidas ficaremos satisfeitos com o acolhimento e afeto que demos para as outras pessoas? Será que valorizamos o suficiente? Será que amamos o quanto deveríamos? E por fim, será que demonstramos, diariamente, para as pessoas mais importantes das nossas vidas o que elas significam para nós?

*A palestra foi viabilizada pelo Ministério da Cultura, por meio do PRONAC (Lei Rouanet)